E ai, o jogo virou.
Você chegou, e chegou de mansinho.
Começou a fazer parte da minha rotina, a habitar meu pensamento. E
então, você já sabia tudo que eu fazia, comia ou pensava. Sabia meus horários,
minhas obrigações, alegrias e tristezas. Conseguia até cuidar de mim, da minha
insegurança e dos meus pesadelos. Me fazia companhia nas madrugadas insones,
ouvia minhas besteiras e conversava comigo sobre temas que não te agradavam.
Ria das minhas piadas e do meu jeito desastrado de me esquivar das perguntas.
Ria da minha resistência, da minha não entrega. E não desistia de me arrancar
respostas, de querer me conhecer, de saber o que eu tava pensando, ainda que,
aqui entre nós, eu desconfiasse que você sabia de todas as respostas. Você
sempre respeitou minhas decisões, inclusive as que não lhe pareciam certas,
incentivou minhas escolhas mesmo sendo diferente do que você achava correto.
Deu nem tempo de me defender, afinal era só o que mesmo?
Nem lembro mais.
E vou continuar fingindo que nunca escrevi para você.